Desenvolvendo tecnologias para o diagnóstico de doenças de grande impacto na saúde brasileira
No final de 1980, eu concluí o segundo grau e, a partir daí, iniciava novos projetos de vida, vestibular… emprego… muitas expectativas e incertezas ao mesmo tempo. Com a continuidade de um estágio de Patologia Clínica, no Posto de Atendimento Médico 13 de Maio, em 1981, soube que a Fiocruz estava recrutando pessoal para vagas em laboratório.
Meu encantamento pelo lugar que se tornaria a minha segunda casa estava só começando. Após o processo de seleção, entrevista e admissão, fui encaminhada ao prédio Rockefeller, na Central de Liofilização de Bio-Manguinhos. Àquela época, não fazia ideia da dimensão que era cada unidade da Fiocruz, com suas respectivas atividades, nem de Bio-Manguinhos, que já contava com a produção das vacinas contra febre amarela, sarampo e meningite. Ainda havia a produção dos diluentes para essas vacinas e de reativos para diagnóstico da doença de Chagas, por meio do Kit de Hemaglutinação, do vírus de superfície da hepatite B, bem como a detecção de anticorpos utilizando os kits de Hemaglutinação e de Elisa.
Tomando ciência das minhas atribuições, fui trabalhar diretamente com o envase e a liofilização da vacina contra o sarampo, para a qual, à época, importávamos o bulk pronto e fazíamos envase e rotulagem para distribuição pelo Ministério da Saúde (MS). O processo de lavagem dos frascos e montagem das bandejas para envase e recravação era totalmente manual, além de haver dois liofilizadores pequenos, que deixaram de atender às necessidades de uma produção em larga escala, pois havia um surto de sarampo no país. Porém, já estávamos com uma transferência de tecnologia entre Brasil e Japão em andamento, para o projeto de autossuficiência de vacinas, pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado, em 1973, para organizar, implementar e avaliar as ações de imunização em todo o país. Logo estaríamos com um laboratório ampliado, contendo dois novos liofilizadores, com capacidade para 43 mil frascos/cada, e uma máquina totalmente automatizada para lavar, secar e esterilizar os frascos no momento da produção, passando diretamente para a máquina envasadora, totalmente automática. Cada ciclo de liofilização levava, em média, 36 a 42 horas e, assim, conseguíamos a produção do equivalente a quatro liofilizadores por semana.
Na Seção Reativos para Diagnóstico, aprendi a fazer cultivo e expansão de massa do Trypanosoma cruzi, utilizada nos kits de Hemaglutinação para detecção da doença de Chagas, e participei diretamente como responsável pela produção do Kit de hepatite B. É interessante ressaltar que essas produções eram manuais, desde o envase, rotulagem, testagem frente a painéis caracterizados, embalagem e distribuição de acordo com a demanda do MS. Como não tínhamos um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), nós mesmos atendíamos às reclamações, caso acontecessem.
Com a epidemia de HIV nos anos 1980, desenvolvemos um teste, totalmente brasileiro, para a detecção da doença, entregue aos laboratórios de saúde pública do país, o Kit de Imunofluorescência para detecção do HIV 1/2.
Hoje, com um portfólio expressivo em número de produtos disponibilizados, ao lembrarmos o começo de tudo, vemos, com muito orgulho e uma satisfação infinita, o cumprimento do nosso compromisso com a população brasileira, através da pesquisa, do desenvolvimento tecnológico e da produção. Pode-se afirmar que Bio-Manguinhos, com seu avanço tecnológico, inovação e desenvolvimento, faz a diferença e contribui para as melhorias dos padrões da saúde pública brasileira.