Maria do Carmo Medeiros Gonçalves

Departamento de Vacinas Bacterianas (Debac)

Quando o coração bate mais forte pela oportunidade de colaborar com a saúde pública

Eu vim para Bio-Manguinhos, em 1996, porque era aluna de mestrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e queria pesquisar algo que trouxesse retorno, que não ficasse apenas no teórico. Então, acabei chegando a Bio, por indicação do professor Leon, do Instituto Oswaldo Cruz, e desenvolvi minha dissertação no Laboratório de Tecnologia Bacteriana (Lateb), com um estudo para produção da vacina de Haemophilus influenzae tipo b (Hib). Assim, começou minha história de participação e envolvimento com as vacinas.

Quando terminei o mestrado, fiquei por um período ainda como pesquisadora visitante, na área de desenvolvimento das vacinas, mas no projeto da vacina meningocócica C, com a proposta de uma nova metodologia de purificação do polissacarídeo. Logo depois, surgiu o concurso para vaga na área da produção de vacinas e pensei: “por que não tentar?”. Eu já tinha me apaixonado pelas bactérias e, com a efetivação do contrato com a GlaxoSmithKline (GSK) para a transferência de tecnologia da vacina Hib, seria o máximo poder conciliar o que aprendi na pós-graduação com a implantação dessa nova vacina.

No mestrado, era um estudo de desenvolvimento, ainda em etapas bem preliminares de pesquisa, mas que veio a contribuir na área da produção, pelo conhecimento que eu já tinha. E, assim, comecei a fazer parte da equipe do Centro de Produção de Antígenos Bacterianos (CPAB), que, na época, estava se formando e me aceitou de braços abertos. Sou muito grata a todos pelo aprendizado, paciência e parceria. Tínhamos uma equipe muito empenhada e engajada, que fez toda a diferença… Quando saímos da graduação, temos muitos sonhos, desafios e dúvidas se realmente estamos no caminho certo. Ainda não conhecemos a parte prática e só com a vivência do dia a dia nos tornamos profissionais capazes e confiantes.

A Hib foi a primeira vacina proveniente de um processo de transferência de tecnologia com a GSK. O Projeto Hib tinha uma coordenação que fazia a interface com a GSK e toda a responsabilidade das adequações do prédio do CPAB para essa nova produção. Esse projeto acabou sendo uma referência para outros processos de transferência, como tríplice viral (TVV), rotavírus e toda uma sequência de vacinas do nosso portfólio. Foram muitos desafios, mas foi um projeto de sucesso, porque conseguimos avançar em todas as etapas até a nacionalização da vacina! Nós produzimos a vacina Hib até 2011, em uma rotina bem intensa. Com sua introdução no Programa Nacional de Imunizações (PNI), desde 1990, os casos de infecções por Haemophilus influenzae caíram drasticamente, o que nos traz muita satisfação! Sinto muito orgulho de ter feito parte dessa equipe! Importante destacar que do Departamento de Vacinas Bacterianas (Debac) saíram pessoas qualificadas para compor outras equipes em Bio-Manguinhos, pelas experiências adquiridas e competências.

Outro projeto que também me trouxe muita satisfação foi o gerenciamento da vacina meningocócica ACW, em parceria com Cuba, cujo objetivo era fornecer vacinas para o cinturão da meningite na África. Para mim, foi um aprendizado gigantesco sobre estudo clínico, questões regulatórias, interface com o Instituto Finlay, entre outros. Desse aprendizado, pude compartilhar com o próprio departamento, especialmente sobre questões regulatórias. Agora, temos outro grande desafio, que é a implantação da vacina pneumocócica 10-valente, que são dez processos da vacina Hib.

Só tenho a agradecer a Bio-Manguinhos, por todas as oportunidades, pelo aprendizado e pela confiança depositada em mim por poder participar de três projetos tão importantes. Não consigo me ver fazendo outra coisa. Quando comecei o mestrado, tinha até outras propostas, mas meu coração não tinha sintonia com aqueles temas. E, quando entrei no Lateb e vi uma geladeira – lembro até hoje da geladeira com o símbolo do Zé Gotinha segurando a vacina! –, senti uma emoção de tal forma que tenho certeza que meus olhos brilharam naquele instante, e pensei: “É aqui que eu quero ficar. É com vacinas que quero trabalhar”. Assim, me encontrei e o tempo foi passando… São 20 anos de serviço público, mas 25 anos em Bio-Manguinhos. Passei pelo desenvolvimento e estou na produção. Quando entrei na Fiocruz pela primeira vez, jamais imaginei que poderia estar à frente de um departamento de vacinas! Recebi o convite da Elaine Teles e aceitei o desafio com muita satisfação, pois, sem sombra de dúvida, o CPAB é a minha segunda casa.

Vamos ver no futuro o que nos aguarda!