Artur Roberto Couto

Vice-diretoria de Gestão e Mercado (VGEST)

Pioneirismo na produção de biofármacos no Brasil

Em 2001, quando o Dr. Akira Homma saiu da Presidência da Fiocruz e retornou a Bio-Manguinhos, eu o acompanhei, com o objetivo de assessorá-lo na criação de uma área voltada a gerenciamento de projetos. Na época, Nadia Batoreu (que trabalhava na área de desenvolvimento tecnológico), Isabella Figueiredo e eu organizamos uma área para gerenciar os projetos do Instituto, visando organizá-los internamente e prospectar novos. Esse foi o embrião da Gerência de Projetos (Gepro).

Em 2002, Nadia e eu fomos a uma palestra no BNDES na qual o Ministério da Saúde falava da preocupação com os recursos gastos com os biofármacos, medicamentos com um processo de produção bem mais complexo do que o de vacinas. Éramos famosos no segmento de vacinas, então, se entrássemos nesse ramo, seria um grande desafio. Conversamos com o Dr. Akira, começamos a estudar essa nova linha de produtos e vimos que era um mercado com tendência de crescimento. Analisamos quais biofármacos o Ministério da Saúde mais precisava e aqueles que mais impactavam no orçamento da pasta, fazendo um paralelo com a nossa planta produtiva e que mudanças seriam necessárias para produzirmos.

Estávamos procurando parceiros para a produção da alfaepoetina (eritropoetina) humana recombinante e alfainterferona 2b humana recombinante. Coincidentemente, havia uma viagem de missão para Cuba com uma grande comitiva do Governo do Brasil, para discutir parcerias em diversos projetos, na área da economia, educação e saúde. Cuba tinha, até então, financiamento da antiga União Soviética (atual Rússia) para a área de biotecnologia. Foi aí que discutimos a possibilidade de eles realizarem a transferência de tecnologia para produção desses biofármacos. Dr. Akira estava reticente de não aceitarem o acordo, mas, como haviam perdido o apoio financeiro da antiga União Soviética, estavam buscando parcerias com outros países.

Ficamos alguns meses fazendo a aproximação e o alinhamento de interesses, desenhando o projeto de transferência de tecnologia. Para isso, contamos muito com a ajuda da equipe do Ministério da Saúde, e o acordo foi formalizado em 2004. Até então, não existia um produtor de biofármaco no Brasil, fomos o primeiro. Nesse período, analisamos todas as mudanças internas necessárias para a produção de biofármacos e foi quando contratamos cerca de 200 a 300 pessoas. E esse foi só o início da nossa jornada com Cuba, pois, mais tarde, fecharíamos outras parcerias.

Demos início, em 2006, à construção do Centro Henrique Penna, a maior planta da América Latina voltada à produção de protótipos, biofármacos e kits para diagnóstico. As plataformas tecnológicas necessárias (CHO e Escherichia coli) eram utilizadas em 98% dos produtos produzidos na época. Ou seja, o empreendimento serviria para diversos projetos futuros. A partir daí, começamos a ter o domínio das tecnologias. Chegamos a produzir 13 milhões de doses de eritropoetina por ano, uma quantidade bastante expressiva.

Com isso, outras empresas públicas e privadas começaram a enxergar o Brasil como um mercado próspero para esse tipo de parceria, que se consolidou por meio da política pública das Parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs).

Há dez anos, vimos o nascimento da Bionovis, que é nossa parceira em sete PDPs. O que começou com apenas dois medicamentos, a linha de biofármacos, hoje, em termos de receita, é quase igual à de vacinas. Temos em nosso horizonte muita oportunidade de crescimento nessa área, fortalecendo o Sistema Único de Saúde (SUS) com o fornecimento de biológicos de qualidade. Sinto orgulho em ter participado desse processo e presenciado a evolução tecnológica de Bio-Manguinhos.