Realizada ao ver Bio-Manguinhos absorvendo tecnologia de ponta e ser cada vez mais estratégico para o SUS
Sinto-me realizada em ver minha trajetória em Bio-Manguinhos convergindo com a incorporação de grandes projetos no Instituto. Entrei na unidade, em abril de 2009, para compor a recém-criada Divisão de Marketing e Novos Negócios (Dinne), do Departamento de Relações com o Mercado (Derem). Trabalhávamos na prospecção de novos produtos para atendimento ao Ministério da Saúde (MS), um trabalho muito incipiente que foi ganhando maturidade ao longo dos anos. Fazíamos um olhar sobre a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e demais demandas da pasta, com a perspectiva de ampliação assistencial, aspectos econômicos e do incentivo ao desenvolvimento produtivo público nacional, através da ampliação do portfólio com parcerias para desenvolvimento e produção de novos produtos.
Recordo que, nesse período (2009-2011), possuíamos apenas dois biofármacos no portfólio de Bio-Manguinhos, e os esforços estavam voltados para pesquisa de mercado e parcerias para medicamentos de alto custo, como para doença de Gaucher, esclerose múltipla, artrite reumatoide e outras.
Os gastos do governo com os medicamentos biológicos eram altíssimos, em função da dependência das Big Pharmas com preços exorbitantes – medicamentos de R$10 mil/frasco, por exemplo – dispensação e assistências limitadas e muitos repasses para esferas estaduais ou municipais.
Em 2014, houve a regulamentação das Parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs). Nesse momento, Bio-Manguinhos já possuía certa maturidade e muitas negociações em andamento, com o Ministério da Saúde e potenciais parceiros, o que nos permitiu submeter com brevidade alguns projetos executivos, como betainterferona, infliximabe, somatropina e outros, além de subsidiar o Ministério no estabelecimento da nova política.
A política visa ao desenvolvimento do parque fabril e tecnológico nacional, seja público ou privado, mas garantindo que o parceiro público domine a tecnologia e tenha competência para produzir e sustentar o fornecimento dos produtos para os programas de saúde pública, pelo tempo que for necessário.
Os contratos de Transferência de Tecnologia (TT) de infliximabe e betainterferona foram assinados em 2014 e 2015, respectivamente. Ainda em 2015, migrei para a Divisão Comercial (Dicom/Derem) e passei a atuar diretamente na negociação de demanda, preços e cronograma, com o Ministério, dos produtos de carteira, incluindo esses novos projetos de TT.
Em 2017, quando fui convidada para gerenciar a Divisão de Atendimento ao Cliente Pós-Marketing (DIACM/Derem), foi desafiador nos adaptarmos à rotina dos produtos que oferecem programas de apoio aos pacientes com rotina intensa de atendimentos e notificações, além da contínua interface com secretarias, laboratórios e fármaco e tecnovigilância.
Os processos de TT foram sendo absorvidos ao longo desses anos e, desde novembro de 2020, quando iniciei na Coordenação Tecnológica (Cotec), sob coordenação de Antonio Barbosa, posso acompanhar a materialização do trabalho realizado nos setores anteriores. Trabalhando diretamente com a transferência de tecnologia, junto aos gerentes de projeto, tenho a oportunidade de acompanhar os avanços da absorção tecnológica, ver o processo acontecendo em Bio-Manguinhos ou no parceiro privado brasileiro, visando à autossuficiência nacional. Além da interação com equipes da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS) e com as instâncias de monitoramento e controle das PDPs.
No final de 2021, tive a oportunidade e honra de ver a produção nacional do primeiro lote em escala industrial do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) do infliximabe, além de acompanhar outros projetos avançando, os mesmos que, há mais de dez anos, constavam nas pesquisas de mercado para subsidiar as negociações dos contratos de parceria.
É muito gratificante trabalhar em uma instituição como Bio-Manguinhos, referência na área da saúde pública, que desempenha um papel estratégico para o país e tem como missão contribuir para a melhoria dos padrões da saúde dos brasileiros, e ainda poder contar a minha história.