Bio-Manguinhos, para mim, não é apenas um trabalho: é meu ganha-pão e faz parte da minha história!
Bom, poderia resumir minha história com uma palavra: superação! Lembro que minha família (mãe, pai, dois irmãos e eu) sempre teve uma condição financeira muito boa, mas, por diversos motivos, quando eu ainda era pequeno, nós perdemos tudo. E quando digo tudo é tudo mesmo.
A partir de então, minha mãe começou a fazer faxina, unha, vender quentinhas e lanches em obras, para engrossar a renda familiar, que contava apenas com a aposentadoria do nosso pai. Tivemos que nos mudar para um lugar mais barato e, mesmo assim, a renda não dava. Por isso, fomos obrigados a catar lixo na rua. Nessa época, eu tinha menos de 15 anos e precisava lidar com a “vergonha” de catar lixo. Hoje, não me sinto mais envergonhado com minha história, porém, eu ainda era muito imaturo para entender o que estava acontecendo.
Devido a esse trabalho nas ruas, passei a perceber que os resíduos são um paradigma da sociedade. Ao mesmo tempo em que eles podem ser considerados o resultado insalubre de inúmeras atividades humanas, representam o meio de sobrevivência de muitas famílias, como foi da minha. E isso que nos tirou do buraco. Conseguimos levantar uma grana, comprar uma balança e abrir o nosso primeiro ferro-velho. Vivíamos rodeados por resíduos de tudo o que é tipo, mas já entendíamos melhor o que era preciso fazer para manter a renda da família.
E, com esse trabalho no ferro-velho, conseguimos comprar nossa casa, sustentar a família e pagar parte do colégio em que estudávamos (recebíamos bolsa). Hoje, nos consideramos vitoriosos, porque superamos todas as adversidades. Os três filhos da dona Marta e do senhor Alcides possuem nível superior: um com mestrado, o outro cursando e um é concursado federal; os três possuem casa própria; dois já estão casados e com filhos. No meu caso, estou trabalhando com gerenciamento… Chuta de quê? RESÍDUOS!!!!
Vejo esse tema com outros olhos porque estive nas duas extremidades. O lixo nos salvou, sim! E tenho muito orgulho de dizer isso. Assim como o lixo, podemos nos reinventar, nos transformar, ser a base de alguém…
Por isso, Bio-Manguinhos, para mim, não é apenas um trabalho: é meu ganha-pão e faz parte da minha história!
Com o apoio dos colegas do Núcleo de Biossegurança (NBIOS) e a confiança da minha gestora, consegui implementar melhorias significativas no gerenciamento e manejo de resíduos infectantes, perfurocortantes e de produtos gerados em Bio-Manguinhos, o que trouxe economia significativa para a unidade (em apenas um processo, tivemos uma economia de mais de 200 mil reais), redução dos apontamentos em auditoria e fiscalização, redução do número de acidentes com material perfurocortante, melhoria nos processos internos, maior rastreabilidade e controle dos resíduos gerados, principalmente os resíduos de produto final, e maior segurança para todos os envolvidos nas etapas do manejo. Assim, conseguimos atingir um patamar de referência para outras instituições. Hoje, a Área Ambiental do NBIOS, no qual sou responsável, é referência em Biossegurança Ambiental para as unidades da Fiocruz e outras instituições externas.
Como na minha história, continuo me reinventando para aprimorar nossos processos relacionados ao gerenciamento de resíduos, com o apoio de toda a equipe do NBIOS. Dessa forma, acreditamos ser possível atender às demandas do Sistema Único de Saúde (SUS), com foco sempre na saúde pública brasileira, sem nos esquecer da preservação ambiental e qualidade dos nossos serviços e atividades.