Elezer Monte Blanco Lemes

Vice-diretoria de Gestão e Mercado (VGEST)

Início das transferências de tecnologia para biofármacos em Bio-Manguinhos

Ingressei em Bio-Manguinhos, em 1998, e, durante muito tempo, trabalhei no desenvolvimento tecnológico, com clonagem e produção heteróloga de proteínas em Escherichia coli e Pichia pastoris. Em 2004, houve uma demanda do Ministério da Saúde (OMS) para Bio-Manguinhos começar sua terceira linha de negócios, que seriam os biofarmácos; no caso, a alfaepoetina e a alfainterferona 2b. Esta, com a qual trabalhei como gerente de projeto, era usada para tratar pacientes com hepatite C – que não tem vacina; é uma citocina que ajuda na resposta imunológica. Esses medicamentos de alto valor agregados foram incorporados à lista do Sistema Único de Saúde (SUS), para distribuição aos estados. A fim de cumprir essa demanda, o Instituto buscou gestores para projetos de transferência de tecnologia (TT) externamente, mas, como não conseguiu candidatos com o perfil adequado, realizou uma chamada de seleção interna.

Na época, falei com meu gestor no Laboratório de Tecnologia Recombinante (Later), Dr. Geraldo Armoa, que tinha interesse em participar dessa seleção, porque seria uma evolução do meu trabalho – agora se transformando em um produto, mesmo sendo via transferência de tecnologia –, e ele me incentivou bastante.

Então, Nadia Batoreu, que era responsável pela prospecção tecnológica sobre os países para a transferência de tecnologia, ajudou a selecionar as pessoas que participariam desse processo. Ao preparar minha defesa de memorial para a seleção, foquei nos produtos e verifiquei que um deles, o interferon, era em plataforma procariótica, na qual eu tinha bastante experiência. Lembro como se fosse hoje que o Dr. Akira Homma, um dos integrantes da banca, perguntou por que eu tinha escolhido o interferon, e eu respondi: “Porque é uma plataforma na qual tenho anos de experiência e tenho consciência que não possuo experiência na área de gestão de projetos, mas é uma aposta que vocês precisam fazer em mim”. Aí, ele me olhou e disse: “Gaúcha, gostei disso que você falou!”. Passei pelo processo e fui selecionada!

Para adquirir mais conhecimento e prática, estudei bastante sobre o tema, além de estagiar nas áreas de produção, com o apoio de Sérgio Dias, gestor do Departamento de Processamento Final (DEPFI). Durante seis meses de estágio, eu me dividia entre o DEPFI, na parte da manhã, e o projeto, à tarde. Assim, fui ganhando mais experiência e evoluindo… Em uma das primeiras visitas que fizemos a Cuba, conheci Mercedez Ortega chefe do departamento relacionado à Garantia da Qualidade, que me falou: “Elezer, para você ter êxito como gestora de um projeto de transferência de tecnologia, nunca deve ser refém da Qualidade, ficar esperando te dizerem o que precisa fazer… Você tem que andar com a equipe de Qualidade de braços dados”. E foi isso o que fiz! Comecei a estudar e a interagir mais com o pessoal da Qualidade, o que culminou, inclusive, em minha consultoria durante uma das atividades de incorporação de banco de células e, depois, em ajuda ao treinamento da equipe.

Ao relembrar essas histórias, vejo que consegui evoluir ao mesmo tempo em que o projeto foi se desenvolvendo. A partir da experiência com a transferência de tecnologia desses dois biofármacos (interferon e alfaepoetina) de dois institutos diferentes, descobri algumas habilidades, como o desenvolvimento de profissionais e o trabalho com gestão de riscos. Hoje, estou na Vice-diretoria de Gestão e Mercado (VGEST), graças a toda essa trajetória e, ao mesmo tempo, a ter formado tantas pessoas. Quando saí da produção, deixei profissionais preparados para assumirem meu posto de gerente de projetos. Continuo a ajudar a instituição em outras esferas e, quem sabe, consiga trabalhar por mais 15 anos antes de uma aposentadoria compulsória.