Priscila Ramos Coimbra Martins

Projeto BioCovid

COVID-19: um grande desafio institucional que fez Bio-Manguinhos mostrar que faz a diferença na saúde brasileira

Em junho de 2020, em meio à pandemia da COVID-19 – decretada pela Organização Mundial da Saúde, em 11 de março de 2020 –, todas as áreas de Bio-Manguinhos receberam a notícia que o Ministério da Saúde (MS) havia anunciado a Encomenda Tecnológica (ETEC) da vacina candidata para COVID-19, em desenvolvimento pela Universidade de Oxford, licenciada à AstraZeneca, a fim de garantir o abastecimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do nosso Instituto.

Esse projeto fez com que as prioridades de Bio-Manguinhos mudassem e o foco fosse totalmente direcionado para a internalização da tecnologia na Produção e no Controle de Qualidade. Assim, para realizar toda a transferência no menor tempo possível, uma grande estrutura de projeto foi instalada, com quatro torres de gerenciamento: Administrativo, Compliance, Transferência de Tecnologia e Infraestrutura. Fiquei lotada como líder da Frente Analítica, na torre de Transferência de Tecnologia (TT). Dentre as minhas funções, posso citar: interface entre os especialistas da AstraZeneca e de Bio-Manguinhos para discussões técnicas; acompanhamento das aquisições dos equipamentos e materiais; acompanhamento de todas as discussões para internalização do processo produtivo da vacina e do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Foi um grande desafio institucional, pois teve um produto oriundo de projeto de transferência de tecnologia incorporado em tempo recorde na rotina. A priorização das atividades relacionadas ao projeto COVID-19 pelas áreas fabris e de apoio, a sensibilização das equipes e o acompanhamento por parte da Diretoria durante todo o processo foram fundamentais para o envolvimento dos colaboradores. Como resultado, o projeto atingiu grandes marcos, como:
a) Transferência analítica de quatro métodos envolvidos na produção dos produtos final e intermediários;
b) Transferência analítica de quatro métodos envolvidos na produção dos produtos intermediários e IFA;
c) Obtenção do Certificado de Condição Técnico Operacional (CTO) e do Certificado de Boas Práticas de Fabricação (BPF) da área produtiva do IFA de COVID-19 e de preparo de meios e soluções;
d) Construção do prédio do novo Laboratório Físico-Químico, com expansão da área do Controle de Qualidade;
e) Produção e liberação de cinco lotes de produto final com IFA importada, com posterior submissão da documentação técnica para registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
f) Produção e liberação de cinco lotes de IFA nacionalizada, com posterior submissão da documentação técnica para obtenção do pós-registro na Anvisa, com inclusão de Bio-Manguinhos como local de fabricação.

Levando em consideração o meu campo de atuação, considero que a parceria com AstraZeneca forneceu evolução e maturação de aprendizado técnico para as áreas ligadas à TT, sendo possível melhorar processos relacionados ao sistema da qualidade e à produção de vacinas virais. Além disso, o Controle de Qualidade expandiu sua área total, com a construção de um prédio para o Laboratório Físico-Químico.

Ao realizar todas essas entregas, Bio-Manguinhos reforçou que faz a diferença na saúde brasileira. O projeto deixou um grande legado de aprendizado e união. Todos nós, colaboradores de Bio-Manguinhos, conseguimos ver o aumento gradual da cobertura vacinal no território nacional, bem como a diminuição dos casos e, principalmente, das internações e óbitos por COVID-19. Mesmo com perdas de entes queridos, tivemos a alegria de ver muitos sendo salvos com a vacina e o SUS.